quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um tantinho de Drummond !




Há! que se hoje Drummond me visitasse, ia pedir um café amargo, solicitar um Noel Rosa na vitrola, de um salto, deixaria o tinteiro de lado, ele  tiraria-me   pra dançar, me pediria o mundo, não deixaria, eu nada lhe negar.

Eu que boba não sou, diria que tudo lhe daria, que à este mundo vim pra lhe servir, me serviria de tuas escritas e as guardaria só pra mim!

Tenho rompantes de ciúmes, sou egoísta de nascença, trancaria a porta e impediria o mundo de conhecê-lo. Prometeria amor eterno, juraria fidelidade, se sou eu a escolhida, ele não ousaria dali sair, não abriria ainda mais a minha ferida.

Forte é nosso envolvimento, cheguei depois que ele se foi e ainda assim, sofro por sua ausência.

A dor é tamanha, que vivo dos restos dele, das migalhas que não deixou pra mim, dos escritos que até hoje me fazem companhia e sem conseguir, tentam e tentam me fazer entender, que somos tão UNOS que ele não precisa estar, basta-nos  SER.

Do nada que deixou pra mim, sinto que tudo tenho, quantos mais procuro mais acho e quanto mais acho, mais me perco nesse Universo Dele.

Tantas possibilidades, folhas e folhas de verdades.

Um vai e vem com freqüência acelerada, um vazio disposto à ser preenchido a cada nova obra.

Quem além dele poderia chegar à essa conclusão, assim de supetão?

“A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca.”(Drummond. )

Ninguém , além Dele, ousou decifrar-me, descaradamente, desmedidamente, e por falar nela, entrar nela, minha mente .
Ninguém além Dele, me avisou que no meu caminho haveria uma pedra e me deu por conclusão que haveria uma pedra, bem ao meio do meu caminho.
Era ele de um cuidado à olhos vistos comigo, atento, deixou a resposta à essa questão que me faço todos os dias.

Por que te amo?

As sem-razões do amor( Carlos Drummond)

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.


Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

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