Aprendi com o florir das primaveras, que a cor da minha
pele, diz muito mais sobre mim, do que eu poderia aceitar, acatar, assumir.
Nasci com um sangue, onde a temperatura é de se alarmar.
Vivo quente, acima do aceitável e acatável para os padrões, que me impuseram.
Quanto mais dias eu via morrer, quanto mais vida eu via
nascer, mais eu entendia o porquê deste meu arder.
Precisei ir lá atrás para me informar, estudar, remexer,
achar um fio da meada, para conseguir esclarecer.
O peso, que esta minha melanina me trazia.
Foram muitas frustrações, agressões, revoltas e melancolias.
Até entender, até apreender, como me defenderia.
Aprendi a ter orgulho da minha etnia, dos meus cabelos, da
largura dos ossos da minha bacia.
Passei a me defender, com sabedoria, persistência,
relevância, força, fé e alegria.
Então, tudo foi ficando mais brando, não o racismo, esse foi
ficando mais maquiado.
Mas meu coração se aquietou, minha alma expandiu, meus
sentimentos afloraram.
Eu me aceitei, aflorei e me inclui.
Desenvolvi uma forma de reivindicar meus direitos, sem tirar
o direito do próximo.
Uso meu espaço nesse mundo, sem invadir o do outro.
Dou graças aos meus ancestrais, por toda a dor que passaram,
para que eu a transformasse hoje,
em amor.
Essa cor de pele, que tantas e tantas vezes, foi cortada por
uma chibata.
Hoje representa a evolução da minha raça, raça no melhor
sentido de força e coragem.
Hoje eu sambo segurando a ponta da saia, ganho meu pão com
um salto mais alto que meu ego, fico entre os meus solta, livre, nunca mais
escondida!
Cristiane, ainda africanizada.