quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Só quieta!



Não me pergunte nada, me deixe aqui quietinha.
Emaranhada em meus pensamentos.

Se eles não me resolvem, tentando explicar-me.
Resolvo-me menos.

Estou fadada a ser esta incógnita, hora explicita.
Hora, casulo me faço.

Turbilhão de sentimentos, avalanche de pensamentos.
Ainda assim, não mexa-me.

Olhe de longe, mantenha uma certa, distancia.
Se te avanço, não regresso, não lhe aviso, lhe impeço.

Guarde sua curiosidade, para coisas palpáveis.
Nada que tires de mim, anda lhe fazendo falta.

Meus segredos, jamais vão livrar-te dos teus medos.
Não lhe sou compatível, me deixe, me largue!

Cristiane, respirando com dificuldade.








Perdendo-me.



Fico envolta, aos acontecimentos que a vida me trás.
Vou assim envolvida até, não saber voltar mais.

Até que eu ache o caminho de volta, leva-se um bom tanto da minha vida.
Pensei em migalhas de pão, pequenas tiras de tecidos de algodão.

Ao certo, nada me guiaria, seria inútil.
Se vou, talvez eu não deseje voltar, pelo mesmo caminho.

Esta constatação, não me vem de supetão, eu levei algumas léguas.
Para que ela encontrasse-me.

Também não me escondi, eu andei solta, leve, eu me mostrei.
Eu me expus, gostei, me excedi.

Olho em volta e tudo é maior do que eu pré supunha.
O lado melhor fica na margem oposta.

Não queria apenas nadar, acho que me faria bem, mergulhar.
O excesso, sempre me caiu muito bem.

Sorver  de tudo um pouco, caso eu exploda, caso não me caiba.
Torno-me partículas de mim, habitarei vários lugares ao mesmo tempo.

Cristiane, perdida.


Tão logo!



Tão logo, eu consiga reorganizar meus pensamentos.
Tão logo, eu consiga ajustar meus sentimentos.

Vou fazer minhas escolhas, vou sair desta bolha
Vou levantar a mão, vou gritar, dar um basta nisso.

Tão logo, me chegue a vontade.
Tão logo, eu veja necessidade.

Vou dar a volta por cima, por os pingos nos is.
Vou dar uma de doida, vou me mostrar loba.

Tão logo, eu resolva me mexer.
Tão logo, eu desenvolva outra forma de viver.

Vou surtar com maestria, por um ponto final nessa anarquia.
Vou documentar, registrar, vou pras cabeças, revolucionar.

Tão logo, eu não insista mais no sim.
Tão logo, eu aceite o fim.

Cristiane, sentindo-se demorada.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Assim...




Perde-me um tanto a cada dia...
Resta-me saber a causa mortis, do feito.

Por falta de vontade, desejo ou zelo.
Por opção, querer e desmazelo.

Por não julgar ser apropriado.
Por desapropriado ser o seu julgar.

Por crer que causa e efeito, não se respeitam.
Por não estar nos seus planos, assim não sou incluída nos seus danos.

Certo seria dizer, que não se perde o que não se teve!
Que não deixa lacuna e nem faz falta, o que nunca foi desejo.
Que se houvesse algo para crescer, já não terás mais,  esse prazer.

Cristiane, constatando.


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A cor da minha pele


Aprendi com o florir das primaveras, que a cor da minha pele, diz muito mais sobre mim, do que eu poderia aceitar, acatar, assumir.
Nasci com um sangue, onde a temperatura é de se alarmar.
Vivo quente, acima do aceitável e acatável para os padrões, que me impuseram.

Quanto mais dias eu via morrer, quanto mais vida eu via nascer, mais eu entendia o porquê deste meu arder.
Precisei ir lá atrás para me informar, estudar, remexer, achar um fio da meada, para conseguir esclarecer.
O peso, que esta minha melanina me trazia.

Foram muitas frustrações, agressões, revoltas e melancolias.
Até entender, até apreender, como me defenderia.
Aprendi a ter orgulho da minha etnia, dos meus cabelos, da largura dos ossos da minha bacia.
Passei a me defender, com sabedoria, persistência, relevância, força, fé e alegria.

Então, tudo foi ficando mais brando, não o racismo, esse foi ficando mais maquiado.
Mas meu coração se aquietou, minha alma expandiu, meus sentimentos afloraram.
Eu me aceitei, aflorei e me inclui.

Desenvolvi uma forma de reivindicar meus direitos, sem tirar o  direito do próximo.
Uso meu espaço nesse mundo, sem invadir o do outro.
Dou graças aos meus ancestrais, por toda a dor que passaram, para que eu  a transformasse hoje,  em amor.

Essa cor de pele, que tantas e tantas vezes, foi cortada por uma chibata.
Hoje representa a evolução da minha raça, raça no melhor sentido de força e coragem.
Hoje eu sambo segurando a ponta da saia, ganho meu pão com um salto mais alto que meu ego, fico entre os meus solta, livre, nunca mais escondida!

Cristiane, ainda africanizada.