quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A cor da minha pele


Aprendi com o florir das primaveras, que a cor da minha pele, diz muito mais sobre mim, do que eu poderia aceitar, acatar, assumir.
Nasci com um sangue, onde a temperatura é de se alarmar.
Vivo quente, acima do aceitável e acatável para os padrões, que me impuseram.

Quanto mais dias eu via morrer, quanto mais vida eu via nascer, mais eu entendia o porquê deste meu arder.
Precisei ir lá atrás para me informar, estudar, remexer, achar um fio da meada, para conseguir esclarecer.
O peso, que esta minha melanina me trazia.

Foram muitas frustrações, agressões, revoltas e melancolias.
Até entender, até apreender, como me defenderia.
Aprendi a ter orgulho da minha etnia, dos meus cabelos, da largura dos ossos da minha bacia.
Passei a me defender, com sabedoria, persistência, relevância, força, fé e alegria.

Então, tudo foi ficando mais brando, não o racismo, esse foi ficando mais maquiado.
Mas meu coração se aquietou, minha alma expandiu, meus sentimentos afloraram.
Eu me aceitei, aflorei e me inclui.

Desenvolvi uma forma de reivindicar meus direitos, sem tirar o  direito do próximo.
Uso meu espaço nesse mundo, sem invadir o do outro.
Dou graças aos meus ancestrais, por toda a dor que passaram, para que eu  a transformasse hoje,  em amor.

Essa cor de pele, que tantas e tantas vezes, foi cortada por uma chibata.
Hoje representa a evolução da minha raça, raça no melhor sentido de força e coragem.
Hoje eu sambo segurando a ponta da saia, ganho meu pão com um salto mais alto que meu ego, fico entre os meus solta, livre, nunca mais escondida!

Cristiane, ainda africanizada.




4 comentários:

  1. Gonzaga, que sensibilidade, que coração á flor da pele você tem. Parabéns, ganhaste um seguidor. Bjs

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  2. Vicente, seja bem vindo...
    Você tem um olhar sensível, isso sim!
    Obrigada, por vir!
    Sente-se, pegue uma cerveja e sinta-se em casa!

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